19 de maio de 2010

Apontamentos sobre a história rotária (Parte 3)

Também a interface de Rotary com movimentos religiosos foi marcada por grandes contradições, com inevitáveis repercussões internas. As duas acções anti-Rotary, uma de origem religiosa e outra de origem política, que não tiveram uma base comum visível mas que coincidiram no tempo, pelo menos numa prolongada fase, foram potenciadoras uma da outra, obrigando o movimento rotário a fazer várias concessões significativas de natureza administrativa.

É principalmente conhecido o conflito havido com a Igreja Católica(1), totalmente ultrapassado já a nível institucional mas ainda latente nalgumas comunidades mais restritas ou nalgumas mentes mais conservadoras. As primeiras reacções católicas ao movimento rotário não surgiram, como normalmente se afirma, no espaço europeu mas sim, na América Latina, onde a filosofia pragmática rotária foi identificada com os conceitos maçónicos e as correntes marxistas. Datam de 1927 as primeiras condenações públicas na América Latina(2) e os primeiros pedidos para que a Secretaria de Estado do Vaticano se debruçasse sobre o movimento e o analisasse(3). A expansão de Rotary, feita anteriormente em países de predominância protestante e de língua inglesa, não tinha, até então, preocupado o Vaticano. É só a partir de 1928 que o Osservatore Romano e a Civiltà Cattolica, dos jesuítas italianos, começaram a publicar extensas análises críticas do movimento, tentando demonstrar a similitude de conceitos e objectivos entre o Rotary e a Maçonaria(4). Ao mesmo tempo, mas na esfera política, a imprensa fascista italiana iniciava os seus ataques contra o movimento, por este defender uma certa forma de solidariedade internacional, contrária à sua visão ultra nacionalista, que combatiam usando o argumento maçónico, e, também, por ser constituído por reconhecidos elementos da alta burguesia e da aristocracia italianas(5), classes que, numa fase intermédia, largamente apoiaram o movimento fascista mas que eram somente toleradas por ele(6).

Também em Espanha a campanha anti-rotária foi intensa e ficou célebre a carta pastoral do Arcebispo de Toledo, Cardeal Segura, divulgada internacionalmente, nos começos de 1929, pelo Osservatore Romano(7), em que todos os católicos eram solicitados a não pertencer nem apoiar Rotary, assimilando o rotarismo ao teosofismo, ao freudismo e à maçonaria. Nesse mesmo ano, durante o Congresso Internacional de Rotary, em Dallas, com Rotários de 48 países e de diferentes religiões, num esforço dialogante notável, são introduzidas modificações nos seus Estatutos de modo a não deixar espaço para novas acusações por parte do Vaticano. Que se manteve silencioso durante os anos seguintes mas permitiu que, a nível das dioceses, o ataque persistisse, rejeitando, sistematicamente, contactos a alto nível com Rotary. Durante esse período, que podemos marcar entre 1930 e 1950, o comportamento dos católicos foi divergente indo desde uma violenta oposição a Rotary até à desassombrada participação de padres católicos latino-americanos como membros de pleno direito de Clubes, a exemplo do que já vinha acontecendo, há muito, nos Estados Unidos da América onde a Igreja Católica, confrontada com as outras Igrejas Protestantes, tinha atitudes de maior independência frente ao Vaticano. Depois do trágico interregno de Rotary, na maioria do território continental europeu, durante o conflito mundial, e quando os Clubes começaram a instalar-se ou reinstalar-se, inesperadamente, em 1951, o Vaticano tornou a atacar Rotary, por Decreto do Santo Ofício(8), o que agora, sob uma perspectiva de distanciamento histórico, parece não ter sido mais do que uma das várias últimas tentativas das forças conservadoras do Vaticano para neutralizar as várias formas de modernização comportamental que dentro dos seus muros já avançava, prenunciando o aggiornamento. Foi evidente a não alargada receptividade a este novo documento e começou, a partir daí, uma lenta correcção das críticas oficiais e uma abertura das autoridades locais católicas à participação em reuniões rotárias. A visita do Arcebispo de Milão, Cardeal Montini, mais tarde Papa Paulo VI, à Sede do Rotary Club de Milão, em 1957(9), e a audiência que o Papa João XXIII concedeu ao Presidente de Rotary International Clifford A. Randall, no ano rotário de 1958-59, foram os marcos históricos da anulação da atitude oficial anti-rotária por parte da Igreja Católica. A partir daí as relações nunca mais deixaram de se aprofundar, com uma perfeita compreensão multilateral das respectivas posições, havendo vários padres católicos, membros representativos de Rotary Clubs(10), que têm vindo a desempenhar importantes funções a nível de clubes(11) e a nível distrital, nomeadamente como Governadores de Distrito(12), e outros como membros honorários de Clubes e Companheiros Paul Harris(13).

Essas contradições, ultrapassadas nos mundos latino e anglo saxónico, surgem agora mais intensas no mundo islâmico. Se compararmos um mapa dos estados de religião muçulmana e um mapa da actual implantação rotária vemos que o movimento não está ali significativamente representado... São conhecidas as dificuldades de implantação, e de manutenção activa, de Rotary nos países muçulmanos, sobretudo, nos mais extremistas, já que o movimento rotário é olhado como uma intromissão moral e ética numa sociedade que, pelos seus próprios princípios(14), e pelo que sofreu de domínio ocidental e cristão durante centenas de anos(15,16), não sendo intolerante tende a ser redutora, estando, na prática, muito fechada à coexistência cultural(17) com outros. Exige se um esforço, enorme e paciente, compreensivo e cauteloso, para que os valores rotários possam ser compreendidos, e aceites, na sua mais profunda universalidade! É fundamental que saibamos compreender as actuais reacções anti rotárias, em parte dos estados islâmicos, até porque tivemos idênticas nos nossos estados... Devemos evitar, fundamentalmente, que cidadãos desses países que se devotam à causa rotária possam sofrer por isso!(18)

Saibamos todos ter a sabedoria de assim o entender, saibamos todos ter o engenho e a arte para servir a causa da paz que é a causa da guerra contra a desumanidade, contra a fome, contra a doença!

(um texto de 1992 revisto em 2008)

Armando Teixeira Carneiro (PGD 1970, 1986-87)

(1) Veja-se o trabalho do já citado Prof Ernesto Cianci, membro do Rotary Club de Roma: Il Rotary e il Cattolicesimo apresentado durante a 8ª Conferência do Distrito 207, em 11 de Maio de 1985, em Arezzo, Itália, era então Governador Umberto Laffi, Director de RI em 1989-91. E, leia-se também o extenso e importante trabalho do famoso rotário italiano Omero Ranelletti: Il Rotary e la Chiesa Cattolica, com várias edições na excelente revista rotária italiana de ensaios Realtà Nuova.
(2) Cânone diocesano de San Miguel, República de San Salvador.
(3) Da Venezuela.
(4) Osservatore Romano de 15 de Fevereiro de 1928 e Civiltà Cattolica de 16 de Junho e 21 de Julho de 1928.
(5) O que era verdade. Grande parte da Casa Real Italiana estava ligada ao Rotary italiano, assim como os elementos mais destacados da alta burguesia e alguns dos maiores valores da inteligentsia italiana.
(6) E que, ao longo da história do regime e nos períodos em que o apoio das massas populares se tornava mais necessário, várias vezes foram alvo de intensos ataques, sobretudo pela ala mais extremista e ideológica do movimento, que foi a que se manteve activa. Mesmo após a demissão de Mussolini pelo Rei Vittorio Emanuelle III, a 25 de Julho de 1943, e sobretudo após a criação da Republica Sociale Italiana, em Setembro de 1943, que se manteve, sob quase total controlo alemão, durante ainda 600 trágicos dias.
(7) Osservatore Romano de 23 de Janeiro de 1929.
(8) Osservatore Romano de 11 de Janeiro de 1951.
(9) Exactamente em 13 de Novembro de 1957, tendo dito, a certo passo:...desejando dizer que segui sempre com grande interesse, à mistura, da minha parte, de alguma ignorância e alguma reserva, a actividade dos Rotary Clubs. Agora, limito-me a dizer que me sinto muito honrado e ainda muito satisfeito por estar hoje entre vós...
(10) Como, entre muitos, Dom Francisco Nunes Teixeira, Bispo Resignatário de Quelimane, membro do Rotary Club de Estarreja, de quem fui amigo.
(11) Vários padres católicos já assumiram funções de Presidente em diversos Clubes portugueses, como são os casos da Figueira da Foz, Monção, Felgueiras, etc..
(12) Em Itália e em França.
(13) Como Dom Manuel Trindade, Bispo Resignatário de Aveiro.
(14) O islamismo tem que ser entendido, mais do que qualquer outra religião, como um fenómeno integrado de natureza religiosa, social, cultural, histórica e política.
(15) E soviético, no século XX, nalguns estados da URSS, agora desmantelada, e no Afeganistão.
(16) Amin Maalouf, no seu notável livro As Cruzadas vistas pelos Árabes, refere que a queda e saque de Jerusalém, no tempo das cruzadas, deixou, no mundo islâmico, sequelas para mais de mil anos...
(17) Mas não à coexistência comercial e também à económica, esta com um sentido expansionista pouco percebido, ou tolerado, nas economias ocidentais.
(18) No período inicial do regime de Khomeini, no Irão, vários rotários foram perseguidos e a simples situação de receber correspondência rotária permitia as mais incríveis e perigosas conotações...

28 de janeiro de 2010

Apontamentos sobre a história rotária (Parte 2)

Será conveniente fazer um rápido enquadramento histórico do movimento rotário desde os seus primeiros anos. Dum modo simplista, é habitual referir o evoluir de Rotary International a velocidades diferentes, consoante a época, mas sem grandes contradições internas. A realidade foi, e é, porém, outra.
Na interface com a política internacional, os anos 30 e 40 foram paradigmáticos e muito importantes para a comprovação desta tese. Pena é que ainda não tenha sido possível realizar um completo, profundo e descomprometido estudo sobre os Rotary Clubs de então, mau grado alguns excelentes estudos já existentes(1).
O comportamento de muitos rotários, em vários países, foi condicionado pelo meio envolvente de então. A saída compulsiva dos rotários alemães de origem judaica dos Rotary Clubs da Alemanha, a partir de 1933, foi generalizadamente ignorada pelos outros rotários alemães que, na sua maioria, preferiram não enfrentar a situação, ainda que muitos destes tenham, mais tarde, mantido clandestinamente activo, com risco total de suas vidas, o espírito de serviço nalguns dos Clubes, entretanto encerrados, em território do 3º Reich. O desmantelamento, forçadamente voluntário, em 1938, dos Clubes italianos, pressionados pela situação política italiana(2), deixou marcas posteriores no movimento em Itália(3),(4). Fenómenos semelhantes deram se por quase toda a Europa, nomeadamente em Espanha, onde o movimento foi extinto e fez uma longa travessia do deserto até 1977. Também em França foi paradigmático o ocorrido com os Rotary Clubs no período de 1940-44(5).
O espírito de compreensão mundial, no período antes e durante a 2ª Guerra Mundial, foi atenuado sendo, logicamente, orientado para dentro do espaço dos Países Aliados e no espaço fechado de alguns países neutrais(6), onde Rotary se manteve e prestou enormes serviços às comunidades locais, flageladas, directa ou indirectamente, pela guerra, como, aliás, o eram as do outro lado da contenda, dum modo semelhante ao que já havia acontecido durante e após a 1ª Guerra Mundial.
Podemos dizer então que, nessa fase, no persistente, ainda que falso e resolúvel, dilema de muitos rotários, entre dar prioridade aos serviços à comunidade local ou aos serviços à comunidade internacional, prevaleceu a perspectiva local ou, no máximo, regional. O que foi compreensível. Em período de conflito há valores que tendem a ser lateralizados como é o caso do respeito pela dignidade humana(7).
A participação activa de rotários na formação e estabelecimento das Nações Unidas(8), e da sua organização específica UNESCO, na redacção da Declaração Universal dos Direitos do Homem(9) e noutras inúmeras acções posteriores ao final da 2ª Guerra Mundial, foram outros exemplos do relançamento do espírito de solidariedade internacional e do respeito pela dignidade humana através de vozes rotárias especialmente colocadas.
Em Portugal foi possível manter activo o movimento durante o conflito, com relevantes serviços(10), sem se ter, no entanto, participado nas acções internacionais pós guerra(11). Também o período imediatamente sequente à revolução do 25 de Abril de 1974 deixou provas de comportamentos diversos. O Rotary que, em Portugal, até poucos anos antes, era liminarmente consentido mas tido como maçónico e anticlerical, passou, na época, quase instantaneamente, a ser tido, por certos grupos fazedores de opinião pública(12), como um reduto burguês e capitalista. E assistimos ao abandono do movimento por alguns que ficaram afectados pelo choque revolucionário e por outros que aceitando como verdadeiro o novo ápodo, ou nele não se reconheceram ou dele se quiseram demarcar por oportunismo conjuntural. E as dificuldades de vária ordem que afectaram muitas pessoas e comunidades fizeram concentrar a maioria dos serviços à comunidade em espaços muito limitados à volta dos Rotary Clubs. E mesmo o posicionamento de muitos Rotários portugueses em actividades interpaíses mostrava-se predominantemente receptor e só complementarmente dador. O que foi também perfeitamente compreensível durante uns anos, mas que, agora, já não tem justificação, ainda que tal posicionamento persista pela parte de alguns...
(1) Para quando um maior esforço de investigação histórica dum movimento que se aproxima dos 100 anos de existência? Citem-se alguns, escassos, bons exemplos:

   The Golden Wheel, David Shelley Nicholl, Plymouth, England, 1984, Macdonald & Evans Ltd;
   Rotary nella storia de Italia, Ernesto Cianci, Milão, Italia, 1983, Mursia SpA.
(2) Mas sob uma aparência de decisão voluntária já que tal foi, então, decidido pelo próprio Conselho Rotário Italiano, afirmando se no documento emergente que os objectivos do movimento (rotário) em Itália encontram a sua melhor expressão e mais eficiente realização no programa e política do regime (fascista) e no tenaz e perspicaz trabalho d'Il Duce, em Roma, na tarde de 14 de Novembro de 1938.
(3) O movimento relança se em Itália logo após a queda progressiva do território em mãos das tropas anglo americanas. O primeiro Clube a reactivar se foi o de Messina, na Sicília, em 18 de Maio de 1944, seguido por muitos outros,ainda que Rotary International só tivesse formalmente readmitido a Itália no movimento em 1946.
(4) A Conferência de Pallanza, realizada em 14 e 15 de Setembro de 1946, foi a base da reformulação de Rotary em Itália. Entre vários aspectos desaparecia o anteriormente denominado Consiglio Nazionale e discutiu se intensamente o fenómeno da democratização do Rotary em Itália, com as lógicas contradições do período pós guerra italiano, cheio de conflitos sociais e políticos, onde se aceitava que o que se perdesse em excelência individual se ganharia em potência representativa das várias categorias sociais.
(5) Um estudo muito curioso foi realizado no relativo ao comportamento dos membros dos Rotary Clubs franceses, proibidos na zona militarmente ocupada pela Wehrmacht, tolerados, mas quase desactivados, na zona do Governo de Vichy. Tentando avaliar quantos, e muitos foram, que se ligaram à resistência e às FFL do General De Gaulle, e quantos, e poucos foram, os que colaboraram com as tropas ocupantes e com o Governo do Marechal Pétain.
(6) Como foi o caso de Portugal.
(7) Respeito no sentido profundo que Goethe chamou de ehrfurcht.
(8) Na Conferência de San Francisco, Califórnia, em 1945, para redacção da Carta das Nações Unidas, havia rotários em 36 das 50 delegações, além duma Comissão especial consultora de Rotary International.
(9) O seu redactor foi o rotário francês René Cassin, Prémio Nobel da Paz de 1968. A Declaração foi aprovada, numa reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas, no Palácio de Chaillot, em Paris, a 10 de Dezembro de 1948.
(10) É um interessante documento histórico o Relatório do Escritório de Zurique de Rotary International, relativo ao ano de 1941, achado, depois da 2ª Guerra Mundial, nos arquivos da polícia fascista italiana, por ter sido, naquela altura, interceptado no trânsito de correio da Suíça para os Estados Unidos, via Itália. Nele, entre várias informações com enorme valor histórico, se refere: ...Os Clubes em Portugal continuam a ser muito activos, especialmente no trabalho de serviços à comunidade e na assistência aos refugiados...
(11) Portugal, como se sabe, pela sua posição de neutralidade durante o conflito, mas, sobretudo, por razões políticas internas, não participou na criação das Nações Unidas, tendo vindo a ser admitido só anos mais tarde.
(12) Opinion makers.
(um texto de 1992 revisto em 2008)
Armando Teixeira Carneiro (PGD 1970, 1986-87)

28 de dezembro de 2009

O Professor Daniel Bessa visita o RC Aveiro

No dia 25 de Janeiro de 2010, teremos no Rotary Club de Aveiro o Professor Daniel Bessa que irá proferir uma palestra subordinada ao tema "Conjuntura Económica Nacional e Internacional".

O Prof. Daniel Bessa, nasceu no Porto no ano de 1948. É Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto (1970) e Doutorado em Economia pelo Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa (1986). Foi docente na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (1970-1999), no Instituto Superior de Estudos Empresariais (1988-2000), na Escola de Gestão do Porto (2000-2008) e na Escola de Gestão do Porto - University of Porto Business School (2008) onde exerceu funções como Presidente da Direcção, primeiro na EGP e depois na EGP-UPBS, até 2009.
É desde Junho de 2009, Director Geral da COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação.
É Administrador e Consultor de várias empresas e Economista em regime de profissional liberal.
A Macroeconomia (Teoria e Política Económica) é a sua área de especialização.
Daniel Bessa foi Ministro da Economia, Industria, Comércio e Turismo do XIII Governo Constitucional, liderado por António Guterres, entre Outubro de 1995 e Março de 1996.

O conselho director agradece que todos os companheiros procedam à confirmação do número de lugares que pretendem reservar, solicitando ainda que divulguem a iniciativa do clube.

As confirmações deverão ser efectuadas para:
96 2989987 96 2989987 (comp.º Filipe Saraiva)

96 6933433 96 6933433 ou pauloantoniopinho@gmail.com (comp.º Paulo Pinho).

16 de dezembro de 2009

Apontamentos sobre a história rotária (Parte 1)

Num dos seus mais conhecidos livros, Vergílio Ferreira escreve, a determinado passo: Como os ponteiros dum relógio ou um barco à distância, a vida imobiliza-se-nos para sempre em cada instante em que estamos. Mas no instante seguinte reparamos que ainda estamos imobilizados mas já noutro sítio(1). Também a nós, Rotários, falta, frequentemente, a visão dinâmica e abrangente do nosso movimento O Rotary é sempre o Rotary mas é sempre diferente, não nos seus ideais e objectivos, mas na sua prática e na sua implantação no mundo.
O objectivo final de Rotary, conscientemente ou não assumido, é a paz e a compreensão mundial. Como tenho várias vezes dito, e escrito, aproximamo-nos dele assimptoticamente através dos múltiplos objectivos intermédios do serviço às comunidades envolventes, consolidando a nossa prática por uma atitude comportamental colectiva a que chamamos de companheirismo.
São esses objectivos, e é esse comportamento, que tem permitido ultrapassar barreiras(2), estender a mão(3), tomar a consciência de que a humanidade é uma só(4) e que Rotary leva esperança(5) vivendo-o com fé e entusiasmo(6) na perspectiva pessoal de se olhar mais além de si mesmo(7), como alguns dos lemas anuais de Rotary nos motivam.
A história percorre grandes espirais com sistemáticas resoluções dialécticas que criam novas bases de conflito, de novo tendencialmente resolvidas pela oposição dos contrários(8).
Ao entrar-se na última década do século XX, assistimos a uma situação inesperada, e aparentemente inexplicável, da aceleração dos fenómenos sócio económicos. Infelizmente, no curto prazo, parece cada vez mais inevitável que novas contradições venham a criar novas situações de conflitualidade e, curiosamente, em aspectos tidos como resolvidos, ou fortemente atenuados, pela evolução histórica da Europa a partir do final da 1ª Guerra Mundial e, sobretudo, após a 2ª Guerra Mundial. Os problemas inter-regionais das várias actuais repúblicas resultantes da fragmentação da URSS, os choques de fundo religioso em zonas alargadas do Médio Oriente, o relançamento de teses revanchistas islâmicas, sublimadas no fundamentalismo islâmico, retomam situações semelhantes a outras que a história registou em épocas e contextos distintos.
A Ásia, aparentemente estável (pelo distanciamento físico e pela dissemelhança de conceitos com que a analisamos), virá a ser confrontada com situações de conflito pela emergência das novas China e Índia.
A nível do Mundo Islâmico o dogmatismo extremista das distintas posições religiosas, que subsistem em cada zona, não permite estabelecer cenários optimistas para as próximas décadas. Seja nos países islâmicos ou nas alargadas colónias islâmicas espalhadas pelo mundo inteiro.
A passagem do modelo bipolar geopolítico USA-URSS a um modelo multipolar sequente à globalização e à crise de 2008-2009, criará novas fronteiras de conflito, umas físicas, outras virtuais.
Provavelmente, antes do domínio asiático iremos assistir a dolorosas confrontações entre o mundo de base cristã e o mundo de base islâmica., num remake dos confrontos do século X a XV.
Qual a posição de Rotary International nesta conjuntura planetária? Qual o seu papel no mundo actual?
Costumo dizer que existe um paradoxo cartográfico rotário. Se folhearmos atlas geográficos de várias nacionalidades, sobretudo a nível de grandes potências, notaremos, para além de maiores ou menores divergências, em termos de fronteiras, o uso de meridianos centrais diferentes. O que ainda é mais notável se fizermos uma comparação de cartografia estratégica. Os mapas europeus têm como referencial o equador e o meridiano 0°, chamado meridiano de Greenwich(9), enquanto os mapas norte americanos usam o meridiano 80°W, os mapas chineses o meridiano 150°E. Quanto aos mapas russos (anteriores ou posteriores a 1917) usam um referencial bem diferente, sem uso do equador e dum determinado meridiano para coordenadas cartesianas, com um ponto central na latitude 90°N(10). Todos com um objectivo: o de colocar essa nação como que sendo a referência, o centro do mundo. E aqui encontramos o nosso paradoxo: se quisermos desenhar um mapa estratégico rotário, sem recurso a qualquer um dos acima referidos que, por rotina, usemos, não seremos capazes de escolher um referencial coerente. É que para um rotário, consciente do seu estatuto, qualquer referencial será correcto! Desde que se possa partir dele para servir as comunidades carentes do mundo inteiro! Pode-se dizer que estamos perante um referencial relativo e virtual em que a constante do sistema é o ideal de servir !
Temos que reconhecer que sendo Rotary um corpo de elite orientado para um conjunto de grandes objectivos humanos não deixa, por isso, de conter nele, para além de todas as virtudes, também todos os defeitos dos outros homens. Digamos que o que deverá distinguir um Rotário é o ter essa mesma percepção. E também a consciência de que existem concepções diferentes do mundo. O Homem, mas neste caso específico o Rotário, tem que aprender a fazer o esforço de aceitar que a sua visão pessoal do mundo, a sua Weltanschaung(11), abrangentemente religiosa, política e ideológica, não é única e que deverá aceitar que os outros, igualmente Homens, eventualmente Rotários também, terão as suas diferentes perspectivas, com o mesmo grau de verdade subjectiva. Rotary tem permitido ao Homem dar este passo importante mas que tem passado desapercebido mesmo entre Rotários: o assumir da igualdade metodológica entre posições ideológicas distintas. Não a convivência sob uma relação de dependência mas a convivência em pleno plano de igualdade!
Há que promover um novo conceito que chamaremos de pax rotaria, como via superestrutural, global e efectivamente conducente à compreensão mundial, ao contrário da pax romana, hoje apenas referencial histórico, da pax americana, em sistemática resolução de crises sucessivas, das pax nacional socialista e pax sovietica, de trágicas memórias, ou de qualquer outra que assente na supremacia estática e indiscutível dum modelo sobre todos os outros. E aqui reencontramos as bases iniciais do pragmatismo rotário que, sem elaborações filosóficas, permitiu ajudar a ultrapassar conflitos e ataques.
(1) Pensar, 1992, Lisboa, Bertrand Editora, ISBN 972 25 0670 6.

(2) Lema do Presidente William E. Walk, 1970-71.
(3) Lema do Presidente Clem Renouf, 1978-79.
(4) Lema do Presidente Hiroji Mukasa, 1982-83.
(5) Lema do Presidente MAT Caparas, 1986-87.
(6) Lema do Presidente Paulo Viriato, 1990-91.
(7) Lema do Presidente Rajendra Saboo, 1991 92.
(8) Sem que, no entanto, seja aceitável uma rígida e pseudocientífica teoria de materialismo histórico por se verificar não ser mais do que uma dogmática visão do materialismo dialéctico que, na sua leitura mais isenta, anula qualquer perspectiva dogmática.
(9) O que por si mesmo é uma prova do predomínio existente, em determinada fase histórica, da Europa sobre o resto do mundo.

(10) O Polo Norte.
(11) Ou, se se quiser, num neologismo português: a sua mundividência.
(um texto de 1992 revisto em 2008)
Armando Teixeira Carneiro (PGD 1970, 1986-87)

27 de outubro de 2009

OUTUBRO, MÊS DOS SERVIÇOS PROFISSIONAIS

Rotary International instituiu o mês de Outubro como o “Mês dos Serviços Profissionais” e nele fomenta a homenagem dos clubes a profissionais ou a serviços que se tenham distinguido na sua actividade, pelo sucesso obtido dentro das fronteiras de um alto padrão de ética, isto é, que ao seu redor tenham sido verdadeiras sementes de PAZ.
Em 1976, o Conselho Director do Rotary International dedicou-se a criar uma definição concisa dos aspectos fundamentais do movimento. Após inúmeras minutas chegou-se à seguinte redacção:

“Rotary é uma organização de líderes de negócios e profissionais, unidos no mundo inteiro, que prestam serviços humanitários, fomentam um elevado padrão de ética em todas as profissões e ajudam a estabelecer a paz e a boa vontade no mundo.”
Nesta definição, tão concisa quanto possível, é notória a preocupação de dar relevo aos PROFISSIONAIS, às PROFISSÕES, e à ACÇÃO PROFISSIONAL.
Nas palavras sábias do nosso saudoso Comp.º PGD Fernando Oliveira, autor de diversos textos de formação rotária, a Acção Profissional é a Pedra Angular do nosso movimento. Daí dedicarmos um mês por ano aos Serviços Profissionais, o mês de Outubro.

Na verdade, aquilo que nos distingue de outras associações de serviço é a preocupação, e friso bem, a preocupação, de sermos eticamente irrepreensíveis na nossa actividade profissional, que veio a ser lapidarmente plasmada na famosa PROVA QUÁDRUPLA que procuramos intensamente divulgar e aplicar.

1. É A VERDADE?
2. É JUSTO PARA TODOS OS INTERESSADOS?
3. CRIARÁ BOA VONTADE E MELHORES AMIZADES?
4. SERÁ BENÉFICO PARA TODOS OS INTERESSADOS?

O caminho de Rotary para a Paz não se faz com grandes saltos, faz-se à custa de pequenos passos no dia a dia, com persistência, sem desistir. Só assim as grandes caminhadas como a nossa, atingem os objectivos. No caminho para a Paz, Rotary tem-se encarregado de algumas grandes caminhadas, das quais realço pela sua proximidade a erradicação eminente da Poliomielite.

São também pequenos passos as contribuições que cada um de nós, rotários ou não, possamos dar quando na nossa actividade profissional nos guiamos por elevados padrões de ética. Uma vez mais reflictamos nas palavras, que a propósito da PROVA QUÁDRUPLA, o falecido Comp.º PGD Fernando Oliveira, escreveu num texto que em 2003 divulgámos no clube:
“Se todos os governantes adoptassem esta bússola no exercício do poder, a PAZ não seria essa quase utopia em que, teimosa e ciclicamente, se transformou.
É precisamente nesse “QUASE” que R.I. também teimosa e ciclicamente aposta, na convicção profunda de que vale a pena continuar na senda dos altos padrões de ética para se chegar à tão almejada PAZ...ou quase!”

20 de outubro de 2009

UM ORGANISMO AVEIRENSE COM 20 ANOS CRIADO NO ESPÍRITO DE ROTARY

"Em 1989 era criada em Aveiro a FEDRAVE – FUNDAÇÃO PARA O ESTUDO E DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO DE AVEIRO, uma fundação de direito privado, na área da cultura e da educação, com uma característica muito especial: todos os seus nove membros fundadores eram rotários.
Por ordem alfabética dos primeiros nomes: Amaro Ferreira Neves, Armando França Rodrigues Alves, Armando Teixeira Carneiro, Énio Fernandes Curvo Semedo, João Pedro Simões Dias, Jorge Carvalho Arroteia, Maria Joaquina Damas, Nuno António Paour Argel de Melo, Salvato Trigo.
Outros rotários, de então, deram um aberto e inequívoco apoio à criação da FEDRAVE como, só para citar alguns, José Ernesto Mesquita Rodrigues, Francisco da Encarnação Dias e Joaquim Cunha.
Ao fim de 20 anos, a dinâmica da vida criou variações: uns sairam do movimento rotário, outros sairam da Fundação, outros das duas Instituições e, finalmente, outros ainda, faleceram.
Hoje, a FEDRAVE tem um conjunto de Curadores reestruturado e constituido por doze personalidades dos mais diversos ramos académicos e profissionais, dos quais sete são rotários (quatro membros do RC de Aveiro, dois do RC de Ílhavo e um do RC do Porto-Oeste), três pertencendo ainda ao grupo fundacional de 1989.
Os ideais de Rotary subliminarmente têm orientado a sua gestão estratégica desde os primeiros anos até hoje. De facto, o espírito de serviço à comunidade envolve todas as actividades culturais e educativas e é o ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, a instituição portuguesa de ensino superior que tem maior ratio de bolsas educativas em cursos de licenciatura e de mestrado em função do seu número de Alunos.
O ISCIA é uma instituição portuguesa de ensino superior, do subsistema privado e do
subsistema politécnico, pertença da FEDRAVE, que desenvolve um já alargado plano educativo envolvendo cursos, devidamente reconhecidos pelo ministério da tutela, MCTES – Ministério da Ciência da Tecnologia e do Ensino Superior, em 4 distintas licenciaturas, 3 mestrados, 5 pós-graduações e vários cursos de formação avançada.
De salientar a recente criação do DETMAR – Departamento de Tecnologias do Mar que, através do estabelecimento de parcerias estratégicas, nomeadamente com a Marinha, com a UFP – Universidade Fernando Pessoa e com a APA – Administração do Porto de Aveiro e com a APFF – Administração do Porto da Figueira da Foz, acaba de lançar uma licenciatura em Gestão de Actividades Marítimas e Portuárias, um mestrado em Gestão Portuária e uma série de cursos de formação avançada, altamente especializados.
Também o novo DESRI – Departamento de Segurança e Resolução de Conflitos desenvolve uma licenciatura em Segurança Comunitária, um mestrado em Segurança, Defesa e Resolução de Conflitos e várias pós-graduações como Criminologia e Terrorismo Transnacional.
O DEPSI – Departamento de Educação e Psicologia tem vindo a formar, desde há mais de seis anos, mais de um milhar de docentes do ensino básico e secundário na área das necessidades educativas especiais, em vários domínios como o cognitivo-motor e o da audição e visão. São cursos de dois semestres devidamente acreditados pelo CCPFC – Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua.
Vários centros de I&D aplicada permitem actividade de investigação relevante como o CPG – Centro Português de Geopolítica, com a sua revista internacional GEOPOLÍTICA, e o OSM – Observatório de Segurança Marítima que acaba de ser constituido.
Uma actividade editorial, a organização seminários e de congressos e de séries de palestras sobre temas estratégicos, como a série Olhares Estratégicos sobre o Mar, completam a sua actividade.
Para já existem dois pólos, o ISCIA Aveiro e o ISCIA Baião, a que se junta o pólo distal
, de formação a distância, com largas dezenas de alunos das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
A metodologia seguida em todos os cursos graduados, pós-graduados e de formação avançada é em regime de blended learning, isto é ensino presencial assistido e replicado numa plataforma de e-learning.
No corpo docente do ISCIA, da ordem das 50 pessoas, doutorados, mestres ou especialistas, existem alguns rotários membros de Rotary Clubs, tanto do Distrito 1970 como do 1960.
Só no Brasil se encontra uma Fundação de natureza rotária na área educativa com idênticas características, muito maior do que a FEDRAVE: FUNDAÇÃO DOS ROTARIANOS DE SÃO PAULO, com excelentes e bem estruturados cursos a vários níveis, nomeadamente o superior. A FEDRAVE não tem ligações formais com estruturas do movimento rotário mas assume nos seus objectivos e procedimentos muito do espírito rotário.
Assim como no passado, justamente, se relacionou a Santa Casa da Misericórdia de Aveiro com a formação rotária de alguns dos seus Provedores ou, mais recentemente, se identificou a formação em Aveiro do Banco Alimentar contra a Fome com o estatuto rotário de alguns dos seus fundadores e dirigentes, também a FEDRAVE é um claro exemplo da projecção dos ideais rotários em várias actividades da sociedade, neste caso no campo cultural e educativo."

Texto de Armando Teixeira Carneiro

13 de outubro de 2009

O Governador de Distrito

"O governador de distrito desempenha uma função muito importante dentro do mundo rotário, sendo o único administrador da organização na sua área geográfica, conhecida como distrito, que, em geral, congrega cerca de 45 clubes. Os governadores recebem treino intenso durante a assembleia internacional e no seminário de treinamento de governadores eleitos. Eles são responsáveis por oferecer orientação a mais de 31000 Rotary Clubs de todo o mundo e pela manutenção da qualidade de serviços prestados pelos clubes.

O governador de distrito é um rotário com vasta experiência que devota um ano para o exercício da função de liderança e faz pelo menos uma visita oficial a todos os clubes do distrito. O governador possui amplo conhecimento sobre os actuais programas de Rotary, os seus objectivos, normas e metas. É uma pessoa de reconhecida actuação profissional, comunitária e rotária. O governador realiza uma série de funções específicas visando assegurar qua a qualidade do Rotary seja mantida no distrito e é responsável, também, pela promoção e implementação de todos os programas e actividades do presidente e do conselho director de RI. O governador planeia e preside à conferência distrital e outros eventos especiais."
ABC do Rotary

O Rotary Club de Aveiro, ao longo dos seus 55 anos de história, deu ao movimento rotário quatro governadores que desempenharam as suas funções ao mais alto nível.

Manuel Fernando Pereira de Oliveira (Past Governador do Distrito 176, 1963/1964)

José Ernesto Mesquita Rodrigues (Past Governador do Distrito 196, 1977/1978)
Armando Teixeira Carneiro (Past Governador do Distrito 197, 1986/1987)
João José M. Vieira Barbosa (Past Governador do Distrito 1970, 2005/2006)